quinta-feira, 17 de junho de 2010

RELEMBRANDO O POETA MANOEL XUDU

Manoel Xudu Sobrinho foi um homem simples, generoso, eternamente cavalheiro, incapaz de um ato ríspido, mesmo nas horas em que sua tranqüilidade corresse o risco de ser ameaçada. Nem por isso deixou de ser um poeta atormentado, de permeio, entre “o mundo e o nada”, o pranto e o riso. Natural do município de Pilar, na Paraíba, conterrâneo de José Lins do Rego e de João Lourenço, violeiro em plena atividade profissional.

"DIA 13 DE MARÇO TERÇA-FEIRA
ANO MIL NOVEC
ENTOS TRINTA E DOIS
POUCO TEMPO DEPOIS QUE O SOL SE PÔS
MAMÃE DAVA GEM
IDOS NA ESTEIRA NUMA CASA DE BARRO E DE MADEIRA
MUITO HUMILDE COBERTA DE CAPIM
EU NASCI PRA VIVER SOFRENDO ASSIM
MINHA DOR VEM DOS TEMPOS DE MENINO
VIVO TRISTE POR CAUSA DO DESTINO
E A SAUDADE CORRENDO ATRÁS DE MIM."


A obra de Xudu exige um conhecimento maior desse gênio do repente. Cada estrofe é um monumento de Arte, a expressar uma cascata de emoções que despenca em uma alma profundamente humanística”.

MAMÃE QUE ME DAVA PAPA
ME DAVA PÃO E CONSOLO
DAVA CAFÉ DAVA BOLO
LEITE FERVIDO E GARAPA
MAS UMA VEZ DEU-ME UM TAPA
E DEPOIS SE ARREPENDEU
BEIJOU AONDE BATEU
DESMANCHOU A INCHAÇÃO
“QUEM NÃO TEM MÃE TEM RAZÃO
DE CHORAR O QUE PERDEU”.


Xudu era tudo isso, dentro de uma simplicidade tamanha, ele abordava os temas mais profundos, com a maior presteza:

SOU IGUALMENTE A PIÃO
SAINDO DE UMA PONTEIRA
QUE QUANDO BATE NO CHÃO
CHEGA LEVANTA A POEIRA
COM TANTA VELOCIDADE
QUE MUDA A COR DA MADEIRA.



A arte do improviso alimentava corpo e alma deste poeta que nasceu no de Pilar. Bom tocador de viola, o que é um tanto raro dentre os repentistas. Ele e Severino Ferreira quando se deparavam, o “cancão piava”, no desafio só de viola. Gostava de uma “branquinha”. Meu Deus! Às vezes os próprios colegas o prendiam num quarto, até de motel, contanto que ele estivesse bom para o desafio noturno dos “Festivais”.

“O HOMEM QUE BEM PENSAR
NÃO TIRA A VIDA DE UM GRILO
A MATA FICA CALADA
O BOSQUE FICA INTRANQÜILO
A LUA FICA CHOROSA
POR NÃO PODER MAIS OUVI-LO.”


Certa vez Xudu estava cantando e um camarada, meio bêbado, oferecia-lhe cerveja e insistia: "Olha a cerveja, Manoel ! Toma a cerveja!..." Manoel desembuxou e disse:

DEIXE DE SUA IMPRUDÊNCIA
DEIXE EU FINDAR A PELEJA
COMO É QUE EU POSSO CANTAR
TOCAR E TOMAR CERVEJA
CACHORRO É QUE TEM TRÊS GOSTOS
QUE CORRE, LATE E FAREJA.


Manoel Xudú é considerado pelos violeiros e cantadores como o maior repentista do Brasil.


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"CANTADOR PRA ENFRENTAR MANOEL XUDÚ
É PRECISO PULAR COMO UMA BOLA
TER A CURVA DO ARCO DA VIOLA
TER O DOCE DO MEL DA URUÇU
TER O SUCO DA POLPA DO CAJU
O AZEITE DO SUMO DA CASTANHA
O TECIDO DA TEIA DA ARANHA
A BELEZA DA PENA DA ARARA
O TACAPE DO ÍNDIO UBIRAJARA
E A DESTREZA DA FERA DA MONTANHA."

(Manoel Xudú)

(http://www.interpoetica.com/folhas_soltas6.htm)

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